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Fotos de arquivo pessoal.

"...talvez eu continue visitando a Alemanha no verão por algum prazer masoquista; gosto de sentir as chicotadas da solidão e a incomunicação total; gosto de me afogar nesse vazio absoluto como numa campana de cristal, para imediatamente depois regressar triunfante à incoerência informal e diabólica do ruído, do caos e da vertigem incontrolável de Havana.
Isto eu compreendi há pouco. E não o entendi na Alemanha nem em Cuba. Captei de chofre - como chegam as idéias iluminadas - certa noite, meio bêbado, passeando com vários amigos e amigas nordestinas na belíssima praia de Fortaleza, no Ceará.
Em outubro passado me convidaram para a Bienal do Livro nessa cidade e adorei a possibilidade de conhecer o Nordeste do Brasil. Pensei: ''Ah, que bom, o mundo encantado de Glauber Rocha.'' Nada disso. Em nenhuma parte vi Deus nem o Diabo. Em compensação, encontrei uma zona do planeta muito parecida com minha terra caribenha. A cor das pessoas, seu modo de falar, de vestir, de andar. O mesmo modo de sorrir sedutoramente. O mesmo modo de viver a noite. E a pobreza excessiva e dolorosa, até escandalosa. Tudo igual a Cuba. Vi muitíssimas pessoas muito pobres, como em meu bairro e em meu país, mas com alegria, com humildade, com bondade, capaz de viver generosamente sua vida com uma grande espiritualidade. E, para mim, espiritualidade não é só orar a Deus e aos santos todo dia, mas também desfrutar com alegria a música e a dança, as cores, o sexo, a bondade e o amor, em cada minuto, saber agradecer esta vida magnífica que nos foi dada. "
Pedro Juan Gutiérrez
Eu queria escrever sobre a semelhança entre Cuba e Brasil mas achei esse texto que traduz perfeitamente o que pensei.

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